17/02/2008

A Grande Mãe e sua Criança Divina

Desde a Antigüidade, o Ser Humano fascina-se com os mistérios da Mãe Natureza: Ciclos da Vida, a fertilidade e a colheita, o cultivo e o nascimento na Alma do Feminino. Na qualidade de filhas da Natureza, nós, mulheres, vivemos o seu ritmo, seu fluxo, a maternidade, reproduzindo a criação. O eterno fluxo feminino: a infância, substituída pela adolescência, a jovem adulta à condição de mulher, a parturiente à mãe: A Grande Mãe. A Grande Mãe, figura arquetípica presente em variadas culturas, tendo responsabilidade quanto à nutrição e à destruição de sua criação. A criação que está presente em nós e ao nosso lado, no assumir de nossa fertilidade, no cultivo, na colheita e no nascer de uma Nova vida, de um Novo Ser. Em nós, nascendo a partir de nós, parte de dentro de nós, chegando como criança a sua vida, a sua existência, ao início de um processo, de uma longa jornada. É a construção da história de um novo Ser humano. Após o parto, a mãe emociona-se ao ouvir o primeiro choro do recém-nascido, o sopro divino, a sua primeira respiração nesta existência. Neste momento, a criança, está sobre a barriga da mãe, com os olhos fechados como que na imersão em seu mundo interior, do qual emergiu apenas fisicamente. Neste exato momento, reina a totalidade: a Grande Mãe com sua Criança Divina. O milagre de uma nova vida principia misteriosamente e em silêncio. A mãe aceita esse milagre em si e naquele que também encontra-se adormecido sobre si. Aos poucos, o recém-nascido abre seus olhos, olha para a mãe e sorri. A mãe revive todo o milagre. Ela vê a profundidade nos olhos do pequeno Ser, que parece vir de longe, e ela pressente a existência, ali, de uma sabedoria que traz as experiências de toda a humanidade, e então admira -se ao intuir em sua Alma Feminina vínculos com todas as mulheres que já viveram ou viverão a mesma experiência que, apesar de universal, é muito única para cada uma. Talvez a mãe acaricie, cheia de veneração, o milagre de sua criação: a criança que, com a expressão de felicidade em seu pequeno rosto, fecha seus olhos para retornar por um breve momento ao lugar de onde veio: ao útero da Grande Mãe Natureza. Sem o filho não existiria o pai, a mãe, e o homem não poderia viver essa dimensão de sua vida; a mulher não poderia experimentar o mistério da gravidez e da maternidade. Sem a Criança, não existiria o produto da criação com a imagem e semelhança à natureza. Enquanto houver a fertilidade, o cultivo, a colheita e o nascimento de um novo Ser, haverá uma Mãe que carregou sua Criança durante seu cultivo sob seu coração e que após a colheita o carrega em seu coração. Existirá, sempre, a Grande Mãe que nos acolhe, nos acompanha e nos admira ao sermos Mães, que a sua semelhança, carregamos ao colo, nossa criação: a Criança Divina.

Carla Ramos - Psicóloga, especialista em psicologia junguiana.

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