27/12/2008

Auto-estima

Os primeiros anos de vida de uma criança são fundamentais na construção de uma auto-imagem positiva, de um sentido de si próprio enquanto pessoa competente e capaz de superar com êxito os obstáculos com que se depara.E como podemos nós favorecer esta construção? Segundo Brazelton, o primeiro passo passará por transmitir à criança amor e carinho. Mas é igualmente importante veicularmos modos de pensar e “ferramentas” de resolução de problemas. Tudo isto vai sendo naturalmente adoptado pela criança à medida que observa os pais, os seus modelos sociais de referência. Para além desta identificação, do amor e do carinho que transmitimos aos nossos filhos, é igualmente importante equilibrarmos o nosso apoio, a nossa presença, com o “desafio” da liberdade de fazer algo sozinho. Por exemplo, se uma criança está a brincar com um puzzle simples, é essencial que os pais se mantenham afastados, observando-a enquanto ela tenta encaixar as peças, virando-as de um lado e do outro e depois, se não conseguir o resultado que deseja, as deixe cair, frustrada. Quando a criança volta ao ataque, conseguindo o encaixe das peças, o melhor que os pais lhe poderão dizer é: “Boa, conseguiste sozinha!” Deste modo, estaremos a reforçar um êxito, uma vitória, o ser capaz de, apesar dos pequenos contratempos de não conseguirmos o que desejamos à primeira vez.Se nos tivemos “intrometido” antes, para mostrar à criança como se faz ou até para a encorajar a tentar, estaríamos a reduzir o triunfo da criança para metade, se bem que esta demonstração seja importante, no inicio, quando a criança não está familiarizada com uma dada tarefa ou quando a frustração começa a ser angustiante para a criança.Como poderemos reforçar a auto-estima nos nossos filhos?

Passo a transcrever algumas sugestões do Dr Brazelton (“O grande livro da criança”):

“1 a 4 meses
Incline-se sobre o bebé para estimular os seus sorrisos e vocalizações. Quando ele sorrir, sorria. Mas depois espere até ele voltar a sorrir ou a vocalizar. Quando o fizer, incentive-o com uma imitação suave. Enquanto ele for repetindo isso inúmeras vezes, observe a sua expressão para ver se ele reconhece as suas próprias aquisições quando exibe estes comportamentos. Não faça isto de modo opressivo.

4 a 6 meses
Quando se inclinar sobre ele, vocalize suavemente. Espere que ele a imite. Quando ele o fizer, mostre pela expressão do seu rosto que reconhece o que ele fez.

6 a 8 meses
Jogue com ele, escondendo-se e mostrando-se de novo, de novo a levá-lo a imitar a sua brincadeira. Depois deixe que seja ele a conduzir o jogo.Quando lhe der de comer, deixo-o segurar uma colher ou uma caneca.

8 a 10 meses
Brincando com o mesmo tipo de jogo, tape-lhe o rosto com um pano e deixe que seja ele a retirá-lo.Deixe-o começar a agarrar com as mãos dois ou três bocadinhos de comida para comer sozinho. Não se preocupe se ele os deixar cair.

10 a 12 meses
Deixe-o imitá-la, bebendo alguns goles de uma caneca e utilizando uma colher. Deixe que seja ele a escolher os alimentos que vai comer com os dedos, dando-lhe apenas alguns pedacinhos de cada vez.

12 meses
Deixe-o continuar a comer sozinho com as mãos, a segurar o seu biberon e a imitá-la com uma caneca.

16 meses
Deixe-o usar um garfo para agarrar os alimentos. Deixe-o decidir se quer ou não comer, mas não experimente inúmeras coisas para tentar agradar-lhe.Entre o primeiro e o segundo ano de vidaDê-lhe oportunidade para brincar com outras crianças da mesma idade. Prepare-o antecipadamente. Não o deixe só com eles enquanto não vir que ele está preparado para isso, mas encoraje-o eventualmente a ficar num grupo sem a sua presença. Não interfira nas brincadeiras deles. Mesmo que mordam, se arranhem e puxem os cabelos uns aos outros, isto poderão ser oportunidades para aprender, se os pais se mantiverem à parte. Contudo, não deixe o seu filho muitas vezes com um companheiro excessivamente agressivo ou passivo. Ele não aprenderá tanto com ele como aprenderia com um do seu género. Não o force a compartilhar os seus brinquedos. Deixe que sejam as outras crianças a ensiná-lo.

Entre os 3 e os 5 anos
Encoraje-o a brincar independentemente com os irmãos ou com os amigos. Mantenha-se à parte das crises que surgirem. Recompense-o pelos seus êxitos na aprendizagem sobre os outros. Encoraje-o a brincar regularmente com uma ou duas crianças, para que ele possa conhecê-las bem, compreendê-las e confiar nelas. Elas transmitir-lhe-ão um sentido de competência para com os outros e ensiná-lo-ão a compartilhar e a ser atenciosos para com os sentimentos das outras pessoas.”

Por último, gostaria de vos deixar o impacto que algumas frases ou apreciações que são tecidas acerca do comportamento do nosso filho têm nele.
Começarei pelas frases negativas e pelo sentimento que cada uma delas provoca na criança e termino com frases positivas e reforçadoras de um sentido de auto-estima e auto-confiança nos nossos filhos.

És um desarrumado = Não sei arrumar
Estás sempre a aborrecer-me = Sou aborrecido
Deverias aprender com o teu primo/amigo = O primo/amigo é melhor do que eu (este sentimento poderá mais tarde desencadear comportamentos de rejeição ou ciúmes)
Assim nunca chegarás a lado nenhum = Nunca vou conseguir (mais tarde, este sentimento irá adquirir contornos de receio perante tarefas futuras da criança)
Estou a ficar farta de ti = Ninguém gosta de mim
Vais ficar de castigo = Tristeza, vingança
Se continuares assim vou castigar-te = Medo
Não sabes estar quieto? = Sou nervoso
Só me dás desgostos = Tristeza
Cada dia te portas pior = Eu sou assim, não me sei portar bem...
És um mentiroso = Eu só sei mentir
Não sei quando é que vais aprender x = Nunca mais vou aprender
Assim nunca terás amigos = Tristeza, receio, medo
Vou contar ao teu pai = Receio, medo

As frases que fazem a diferença...

Tenho a certeza de que és capaz = Sou capaz
Muito bem, eu sei que tu farás o que está correcto = Sou capaz
Tens um bom coração = Sou bondoso
O João diz que tu és um amigo excelente = Eu confio no João, o João é meu amigo
Se precisares de ajuda, estarei aqui para ti = Confiança
Sei que fizeste isto sem querer = Não vou repetir esse comportamento
Estou muito orgulhosa de ti = Satisfação
Sabes que te amo muito? = Sou amado
Parabéns pelo que fizeste = Satisfação, repetição desse mesmo comportamento
Que surpresa boa me fizeste! = Satisfação, alegria
Noto que a cada dia estás a portar-te melhor = Vontade de melhorar
Acredito no que me estás a dizer, confio em ti = Segurança, confiança
Sabes que eu quero o melhor para ti = Amor
Mereces o melhor = Amor, satisfação
Podes chegar onde quiseres = Eu sou capaz de...
Tenho a certeza de que as tuas próximas notas na escola serão melhores = Vou esforçar-me mais

Os filhos agradecem e respondem também muito melhor com um gesto de aprovação e algumas palavras de ânimo. Um “Força, campeão!” pode fazer com que a criança chegue muito mais longe do que ela e os seus pais jamais pensariam
Em suma, se a criança se sente querida e aceite, terá uma atitude mais positiva, será capaz de colocar-se metas realistas e, deste modo, auto-motivar-se para alcançar outras metas, metas essas ainda mais elevadas.

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